segunda-feira, 9 de junho de 2014

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O Pequeno Príncipe - Cap XV
        O Sexto planeta era dez vezes maior. Era habitado por um velho que escrevia em livros enormes.
       - Ora Vejam! Eis um explorador!  exclamou ele, logo que avistou o Pequeno Príncipe.
        O principezinho sentou-se à mesa, meio ofegante. Já viajara tanto!
- De onde Vens?' perguntou-lhe o velho.
- Que livro é esse?' perguntou-lhe o Pequeno Príncipe.   - Que faz o senhor aqui?'
- Sou geografo respondeu o velho.
- Que é um geografo?' perguntou o principezinho.
- É um especialista que sabe onde se encontram os mares, os rios, as cidades, as montanhas, os desertos.
- Isto é bem interessante, disse o Pequeno Príncipe .  - Eis afinal uma verdadeira profissão!
- E lançou um olhar, ao seu redor, no planeta do geografo. Nunca havia visto planeta tão grandioso.
- O seu planeta é muito bonito. Há oceanos nele?
- Não sei te dizer disse o geografo.
- Ah! (o principezinho estava decepcionado). E Montanhas?
-Não sei te dizer.' disse o geografo.
- E cidades, e rios, e desertos?
'Também não sei te dizer' disse o geografo pela terceira vez.
- Mas o senhor é geografo!
- É verdade' disse o geografo. - Mas não sou explorador. Faltam-me exploradores! Não é o geografo quem vai contar as cidades, os rios, as montanhas, os mares, os oceanos, os desertos. O geografo é muito importante para estar passeando. Nunca abandona a sua escrivaninha. Mas recebe os exploradores, interroga-os, e anota seus relatos de viagem. E quando algum lhe parece mais interessante, o geografo faz um inquérito sobre a moral do explorador.
- Por quê?
- Porque um explorador que mentisse produziria catástrofes nos livros de geografia. Assim como um explorador que bebesse demais.
 - Por quê?' perguntou o Pequeno Príncipe.
- Porque os bêbados veem em dobro. Então o geografo anotaria duas montanhas onde, na verdade, só há uma.
 -Conheço alguém' disse o principezinho 'que seria um mau explorador.
- É possível. Pois bem, quando a moral do explorador parece boa, faz-se uma investigação sobre a sua descoberta.
- Vai-se vê-la?
- Não. Seria muito complicado. Mas exige-se do explorador que ele forneça provas. Tratando-se, por exemplo, da descoberta de uma grande montanha, é essencial que ele traga grandes pedras.
O geografo de repente se entusiasmou:  - Mas tu.. tu vens de longe. Certamente, és explorador! Portanto, vais descrever-me o teu planeta! E o geografo, tendo aberto seu caderno, apontou o lápis. Anotam-se primeiro a lápis as narrações dos exploradores. Espera-se, para anotar a caneta, que o explorador tenha trazido provas. - Então? Interrogou o geografo.
- Oh! onde eu moro' disse o Pequeno Príncipe não é interessante: é muito pequeno. Eu tenho três vulcões. Dois em atividade e um vulcão extinto. A gente nunca sabe...
- 'A gente nunca sabe... repetiu o geografo.
- Tenho também uma flor.
- Nós não anotamos as flores.  Disse o geografo
- Por que não? É o mais bonito!
_ Porque as flores são efêmeras.
- Que quer dizer "efêmera"?
- Os livros de geografia' disse o geografo são os mais exatos. Nunca ficam ultrapassados. É muito raro que uma montanha mude de lugar. É muito raro um oceano secar. Nós escrevemos coisas eternas.
- Mas os vulcões extintos podem voltar à atividade interrompeu o Pequeno Príncipe - Que quer dizer "efêmera"?'
- Que os vulcões estejam extintos ou não, isso dá no mesmo para nós - disse o geografo O que nos interessa é a montanha, ela não muda.
- Mas que quer dizer "efêmera"?' repetiu o principezinho, que jamais renunciara  a uma pergunta que tivesse feito.
- Quer dizer "ameaçada de desaparecer brevemente".'
- Minha flor está ameaçada de desaparecer brevemente?
- Sem dúvida.
- Minha flor é efêmera', pensou o Pequeno Príncipe, 'e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha! Esse foi seu primeiro gesto de remorso. Mas retomou coragem:
- Qual planeta me aconselha visitar?' perguntou ele.
- A Terra,  respondeu o geografo. - Goza de boa reputação...

E o principezinho partiu pensando na sua flor.

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